'A Prisioneira de Bordeaux' é um drama elegante e poderoso sobre encontros, silêncios e abismos sociais
Estreia nos cinemas brasileiros será no dia 7 de agosto de 2025
Por: Lucas Silva
Foto: Autoral Filmes


Com estreia marcada nos cinemas brasileiros para o dia 7 de agosto de 2025, A Prisioneira de Bordeaux confirma Patricia Mazuy como uma das vozes mais afiadas e consistentes do cinema francês contemporâneo.
Exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes, o longa é um retrato sensível e politicamente carregado sobre o encontro entre duas mulheres atravessadas por solidões distintas, mas igualmente profundas.
A trama parte de um cenário simples: uma sala de visita em uma penitenciária. Ali, Alma Lund (vivida com maestria por Isabelle Huppert), uma mulher de classe alta, conhece Mina Hirti (a excelente Hafsia Herzi), uma jovem mãe impedida de ver o companheiro por conta de uma questão burocrática. Sensível à situação, Alma oferece hospedagem à estranha em sua casa na cidade. É a partir desse gesto de empatia — ou seria culpa? — que se desenrola uma narrativa tensa, sutil e surpreendentemente cômica em certos momentos.
Mazuy constrói um filme que se recusa ao didatismo e à obviedade. A relação entre Alma e Mina é feita de olhares, silêncios, pequenos atos — e o que parece ser uma história sobre uma amizade improvável logo se revela um estudo delicado sobre desigualdade, raça, classe e gênero na França de hoje. Em vez de longos discursos, a diretora prefere os gestos e as tensões que nascem do cotidiano: o desconforto em um jantar, a escolha de palavras, o tempo de espera.
É também um filme profundamente feminino, mas que evita lugares-comuns ao retratar suas protagonistas com complexidade. Alma, embora rica e aparentemente protegida pelo sistema, está à deriva — vazia, ociosa, sem propósito. Mina, por sua vez, carrega o peso de uma rotina exaustiva e de um sistema que a exclui constantemente. São mulheres em extremos diferentes da estrutura social, mas ambas isoladas à sua maneira.
As atuações de Huppert e Herzi são um espetáculo à parte. Juntas em cena, constroem uma química rara, que flutua entre o afeto, o incômodo e a desconfiança. A fisicalidade de suas performances — tão elogiada pela crítica internacional — sustenta o filme em sua tensão constante e em seus momentos de leveza inesperada.
Visualmente elegante, com uma direção segura e cuidadosa, A Prisioneira de Bordeaux é um filme que se recusa a ser "importante", ainda que trate de temas urgentes. É político, sim, mas com a precisão e a inteligência de quem sabe que as grandes mudanças, às vezes, começam em pequenos encontros.
Ao final, fica uma certeza: este é um daqueles filmes que permanecem com o espectador. Não apenas pela beleza formal ou pelas atuações impecáveis, mas pela força com que questiona nossas certezas — e pela ternura com que, mesmo no caos, acredita nos vínculos humanos.
“A Prisioneira de Bordeaux” estreia dia 7 de agosto com distribuição da Autoral Filmes. As cidades onde o filme entra em cartaz podem ser conferidas no perfil @autoral_filmes.
Não perca essa estreia!