Por: Felipe Lucchesi
Foto: Felipe Lucchesi

Em tempos de retrocessos disfarçados de opinião, o palco do Teatro Itália, no coração de São Paulo, se transforma em trincheira artística e memorial afetivo com Dzi Croquettes Sem Censura. Mais que uma peça biográfica, o espetáculo é um ato de resistência, um grito de liberdade e uma celebração da coragem queer em tempos sombrios.

Dirigida, concebida e coreografada por Ciro Barcelos, remanescente do grupo original, a montagem resgata a história dos lendários Dzi Croquettes — grupo que ousou desafiar o moralismo da ditadura militar brasileira com salto alto, irreverência e talento em doses avassaladoras. Criados nos anos 1970 por Wagner Ribeiro e Lennie Dale, os Dzi foram muito mais que um coletivo artístico: foram símbolo de subversão e liberdade em um país silenciado.

A peça, com dramaturgia assinada por Barcelos e Julio Kadetti, propõe uma narrativa íntima e pulsante. O público é convidado a ir além da imagem glamourosa do grupo, adentrando os bastidores, as dores e os amores de 13 artistas que compartilharam não só o palco, mas também uma casa e um ideal. É a história não contada — ou censurada — que finalmente encontra espaço para ser dita em alto e bom som.

No elenco, um time potente e diverso dá vida aos integrantes originais com entrega e emoção, composto por: André Habacuque, Akim, Bruno Saldanha, Celso Till, César Viggiani, Ciro Barcelos, Daniel Suleiman, Fernando Lourenção, Jonathan Capobianco, Juan Becerra e Kaiala.

Com uma estética que mistura teatro, dança e música em perfeita sintonia, Dzi Croquettes Sem Censura mantém a essência revolucionária do grupo original, mas também dialoga com o presente.

Ao revisitar o passado, a peça escancara o quanto ele ecoa no hoje — em cada tentativa de silenciamento, em cada discurso moralista travestido de “opinião”, em cada ataque à cultura ou à comunidade LGBTQIAPN+.

A montagem não é apenas nostálgica — é urgente. Em cena, revive-se o passado com olhos críticos e emocionados, mas também se constrói uma ponte com as lutas atuais, especialmente aquelas travadas por corpos dissidentes, marginalizados e resistentes. O espetáculo é um manifesto vivo contra qualquer forma de censura, opressão e apagamento.

Ao final, Dzi Croquettes Sem Censura deixa no ar uma certeza: a arte, quando atravessada pela coragem, pela verdade e pelo afeto, é capaz de mudar o mundo — ou, ao menos, de lembrar a cada um de nós que ser quem se é, com orgulho, ainda é um dos maiores atos de liberdade.


Vá ao teatro!

Serviço

Dzi Croquettes Sem Censura |

Teatro Itália (Av. Ipiranga, 344 - República)

Em julho: sábado e domingo, às 20h30min

Classificação indicativa: 16 anos

Ingressos: R$ 160 (inteira)

Informações: @dzicroquettes