'Filhos do Mangue' é um retrato poético e visceral da reconstrução humana em meio ao caos

Estreia nos cinemas brasileiros será em 17 de julho

Por: Mariana Mourão
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Pé na Estrada Filmes

O novo filme da cineasta Eliane Caffé, Filhos do Mangue, que estreia nos cinemas brasileiros em 17 de julho, é um mergulho denso, sensível e necessário nas feridas sociais e nas possibilidades de cura por meio do afeto, da natureza e da escuta.


A trama acompanha Pedro Chão (Felipe Camargo), um homem ferido e sem memória que aparece em uma comunidade ribeirinha. Envolto por acusações de roubo e crimes do passado que ele próprio desconhece, Pedro é julgado por aqueles que um dia o conheceram — entre eles, sua ex-esposa (Titina Medeiros) e a filha (Maria Alice da Silva). A partir desse julgamento popular, o longa constrói uma poderosa alegoria sobre violência de gênero, tráfico de pessoas, corrupção e exclusão social.

Apesar dos temas áridos, Caffé conduz a narrativa com uma delicadeza que impressiona. O roteiro, assinado em parceria com Luis Alberto de Abreu, evita o didatismo e abre espaço para a ambiguidade dos personagens e das relações humanas. Nada é simples, raso ou binário em Filhos do Mangue. E é exatamente nesse desconforto que o filme pulsa com força.

Felipe Camargo entrega uma de suas atuações mais intensas, profundamente conectada ao espaço em que seu personagem se insere. A construção de Pedro Chão é visceral e, ao mesmo tempo, contida — como se o ator ouvisse o silêncio da paisagem antes de cada gesto. A interação com os moradores reais da paradisíaca Barra do Cunhaú, onde o longa foi filmado, contribui para a veracidade e organicidade da história.

Destaque também para as performances femininas: Titina Medeiros, Genilda Maria (premiada em Gramado) e a jovem Maria Alice da Silva oferecem nuances emocionais potentes às mulheres que cercam Pedro — vítimas e testemunhas de uma vida marcada por traumas e ausências. Em especial, Genilda Maria brilha com autenticidade rara, carregando uma presença que emociona e impõe respeito.

O mangue, elemento central do cenário, não é apenas pano de fundo, mas personagem simbólico. A paisagem natural, registrada com sensibilidade pela fotografia de Pedro Rocha, representa tanto a degradação quanto a possibilidade de regeneração. Em meio à lama, aos galhos retorcidos e à beleza crua da região, o protagonista tenta reconstituir sua identidade — como quem busca raízes para florescer de novo.

A trilha sonora discreta, a direção de arte premiada de Rodrigo Frota e o uso constante de improvisação tornam o filme ainda mais íntimo e pulsante. Caffé, como em Narradores de Javé, reafirma sua capacidade de unir linguagem cinematográfica refinada com compromisso social e escuta coletiva.

Filhos do Mangue não oferece soluções fáceis. Mas oferece uma perspectiva de humanidade possível, ainda que à margem. Um cinema que escuta, que observa, que propõe — sem jamais julgar.

É um dos grandes filmes brasileiros de 2025. E deve ser visto, debatido e sentido.


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