Hair em SP: entre o grito de liberdade e a autocensura contemporânea
Um dos maiores marcos do teatro musical, Hair, retorna aos palcos em outubro no Teatro BTG Pactual
Por: Lucas Silva
Foto: Divulgação


Um dos maiores marcos do teatro musical, Hair, retorna aos palcos em outubro no Teatro BTG Pactual, sob a consagrada direção de Charles Möeller & Claudio Botelho. Mas junto da expectativa pela estreia, surge uma dúvida inevitável: será que a nova versão conseguirá preservar a ousadia que transformou o espetáculo em símbolo cultural nas décadas de 1960 e 1970, ou será moldada pelos limites impostos pelo politicamente correto da atualidade?
Desde sua estreia na Broadway, em 1967, Hair chocou e encantou plateias ao exaltar liberdade, rebeldia e contestação, com canções que se tornaram hinos de uma geração. A icônica cena de nudez coletiva, mais que uma provocação estética, consolidou-se como manifesto contra os padrões conservadores e como expressão da autenticidade de uma era.
A questão que paira agora é: em uma sociedade que se autointitula libertária, mas que ainda julga corpos e atitudes com a mesma rigidez de tempos de censura, haverá espaço para esse gesto de coragem? A cena de nudez, tão emblemática, resistirá à pressão dos pudores contemporâneos ou será atenuada para não ferir sensibilidades?
Mais do que uma simples remontagem, o desafio de Möeller & Botelho será equilibrar a força histórica de Hair com os dilemas de um tempo que, paradoxalmente, prega liberdade, mas impõe novos filtros de comportamento. Caso o musical ceda à adaptação excessiva, corre o risco de transformar-se em um registro nostálgico — quando sua essência sempre foi o confronto, a provocação e a quebra de paradigmas.
O público poderá testemunhar, em outubro, se a “aldeia” de Hair continua a ecoar como grito de liberdade ou se a voz que um dia incendiou gerações será abafada pelos pudores do presente.