Por: Mariana Mourão
Foto: Divulgação

Em “O Pior Homem de Londres”, o cineasta português Rodrigo Areias reafirma sua maturidade artística e confirma por que é considerado uma das vozes mais relevantes do cinema europeu contemporâneo. O longa mergulha no coração da era vitoriana para retratar Charles Augustus Howell, figura enigmática que transitou entre os salões da elite artística e os bastidores obscuros da chantagem e da manipulação.

O que poderia ser apenas uma cinebiografia de época se transforma, pelas mãos de Areias, em uma experiência visual e narrativa arrebatadora. O rigor histórico não engessa a trama; ao contrário, dá lastro a uma encenação que dialoga com questões universais: poder, corrupção e o fascínio que o mal pode exercer quando disfarçado pela civilidade.

A direção de arte de Ricardo Preto é um espetáculo à parte. Cada figurino, cada objeto em cena, carrega significado dramático. O detalhe dos cabelos soltos de uma personagem, por exemplo, torna-se gesto narrativo, revelando conflitos internos em uma sociedade que ditava comportamentos até nos mínimos gestos. Da mesma forma, os ambientes luxuosos e decadentes funcionam como personagens silenciosos, ampliando a densidade do filme.

A fotografia trabalha a luz e a sombra de maneira quase expressionista, criando uma atmosfera de tensão que envolve o espectador. Londres surge como uma cidade ambígua: esplendorosa e sombria, deslumbrante e ameaçadora. O resultado é um thriller histórico que, além de instigar pela trama, encanta pela força estética.

Areias não se limita a reconstituir o passado. Ele o problematiza. Howell, interpretado como um homem simultaneamente fascinante e repulsivo, encarna a face mais perigosa do poder: aquela que se esconde sob a máscara da elegância. Não à toa, inspirou Arthur Conan Doyle a criar um dos vilões mais memoráveis de Sherlock Holmes.

“O Pior Homem de Londres” é uma reflexão sobre a sedução do mal e os limites da ética em sociedades regidas pela aparência. É cinema de alta voltagem estética, mas também de pensamento crítico — e é justamente nesse equilíbrio que reside sua grandeza.

A estreia ocorreu no dia 4 de setembro de 2025, precedida de elogios internacionais.

Confira!