Sonho Elétrico é um pesadelo cênico que nem Roberta Miranda consegue salvar

Uma entre as piores experiências teatrais

Por: Lucas Silva
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Esteve em cartaz até o início de agosto no Sesc Vila Mariana, Sonho Elétrico prometia ser uma experiência provocadora — e foi, mas pelos motivos errados. Criado pela respeitada Companhia brasileira de teatro, com texto e direção de Marcio Abreu, o espetáculo se inspirava nas ideias do neurocientista Sidarta Ribeiro, especialmente no livro Sonho Manifesto: Dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico. No entanto, o que poderia ter sido um diálogo potente entre ciência, arte e esperança se transforma em um exercício teatral raso, desarticulado e, por vezes, constrangedor.


Em apenas 30 minutos, a montagem consegue atingir um nível de desinteresse que fez parte do público se levantar e ir embora antes do fim. Não por provocação ou desafio estético — o que seria legítimo —, mas pela absoluta falta de conexão entre os elementos em cena. O texto fragmentado se apoia em frases de efeito esvaziadas de significado, enquanto os intérpretes se revezam em expressões corporais que mais confundem do que comunicam.

A trilha sonora — pontuada, de forma inesperada, por uma música de Roberta Miranda entoada pelos protagonistas — soa como um recurso gratuito, quase uma tentativa desesperada de gerar algum impacto. No contexto da cena, porém, é como a cereja em um bolo sem massa: despropositada e indigesta.

A proposta do espetáculo parece se escorar em uma estética do inacabado, do caótico, mas sem que haja qualquer fio condutor, dramaturgia estruturada ou proposta que justifique esse caminho. O resultado é uma colagem de ideias desconexas, sem qualquer profundidade reflexiva, e que deixa no espectador não o desejo de debater, mas a frustração de ter perdido tempo.

É doloroso ver uma companhia tão relevante entregar um projeto tão frágil. Se a intenção era provocar, há formas mais consistentes de se fazer isso. Sonho Elétrico falha ao tentar ser poético, falha ao tentar ser político e falha ao tentar ser experimental. Resta apenas o silêncio constrangido da plateia e a vontade urgente de se apagar essa memória com uma boa peça de teatro — uma que nos lembre que o palco ainda pode ser um lugar de encantamento.


Vá ao teatro!