Uma imersão comovente e desconfortável na precariedade invisível
O filme estreia nos cinemas brasileiros dia 29 de maio
Por: Maurício Colombino
Foto: Divulgação


O filme "Entre dois mundos", que estreia nos cinemas brasileiros dia 29 de Maio, nos conduz com sensibilidade e coragem à realidade de milhões que vivem à margem da estabilidade econômica, por meio da experiência de Marianne Winckler, uma escritora consagrada que decide vivenciar a precariedade para escrever sobre ela. Ao aceitar um trabalho como faxineira, Marianne atravessa a fronteira entre observadora e participante, sendo confrontada não apenas com o peso físico do trabalho, mas com a riqueza humana que pulsa nos bastidores da invisibilidade social.
A força do filme está em sua honestidade desconcertante: ao mesmo tempo em que denuncia a exploração cotidiana enfrentada por trabalhadores mal remunerados, celebra a dignidade, a solidariedade e os laços de afeto que florescem mesmo nos ambientes mais hostis. A cumplicidade entre os personagens – construída com cuidado e autenticidade – nos envolve e emociona, questionando os limites éticos da representação: até que ponto é justo explorar a confiança de quem não sabe que está sendo observado para fins artísticos?
O longa evita o didatismo e a vitimização, apostando em um retrato nuançado e profundamente humano. Ao final, quando a verdade sobre Marianne vem à tona, o filme nos convida a refletir sobre privilégio, empatia e os riscos de transformar o sofrimento real em matéria-prima para projetos intelectuais. A obra, portanto, não apenas expõe uma realidade crua, mas também interroga o próprio ato de contá-la – e nisso reside sua potência.