“Uma Mulher Diferente”: delicada comédia francesa ilumina o amor e a autodescoberta através do olhar do autismo

A diretora, que também assina o roteiro, constrói uma narrativa profundamente humana, equilibrando emoção, humor e reflexão

Por: Mariana Mourão
Foto:
Autoral Filmes

Com uma doçura rara e um humor que nasce da humanidade dos detalhes, Lola Doillon entrega em “Uma Mulher Diferente” (“Différente”) uma das comédias-românticas mais sensíveis e autênticas do cinema francês recente. O filme — estrelado pela notável Jehnny Beth (“Anatomia de uma Queda”) e pelo carismático Thibaut Evrard (“A Noite do Dia 12”) — estreia nos cinemas brasileiros no dia 16 de outubro, distribuído pela Autoral Filmes, após exibições elogiadas no Festival do Rio.


Com leveza e empatia, Doillon aborda o tema da neurodivergência feminina, acompanhando a jornada de Katia Rousseau, uma documentarista brilhante que, já adulta, descobre ser autista. Essa revelação transforma sua forma de compreender o mundo — e, sobretudo, de viver o amor.

A diretora, que também assina o roteiro, constrói uma narrativa profundamente humana, equilibrando emoção, humor e reflexão. O diagnóstico de Katia não é tratado como um ponto de ruptura trágico, mas como um ato de libertação e autoconhecimento. A partir daí, o filme se torna um delicado retrato sobre o direito de ser “diferente” sem precisar se encaixar — e sobre como o amor pode florescer justamente nas imperfeições.

Comparado pela crítica francesa à franquia “Bridget Jones” por seu espírito leve e feminino, “Uma Mulher Diferente” vai além da comédia romântica tradicional. Lola Doillon entrega um cinema que observa o cotidiano com a mesma ternura com que questiona seus padrões. A câmera acompanha Katia e Fred (Evrard) em encontros e desencontros marcados por desencontros emocionais, mal-entendidos e um aprendizado constante sobre empatia e escuta.

Jehnny Beth oferece uma atuação comovente, alternando fragilidade e força com absoluta naturalidade. Sua Katia é uma mulher complexa, divertida e de uma verdade desconcertante. Já Thibaut Evrard traz humanidade ao contraponto masculino, representando o olhar curioso, às vezes confuso, mas sempre disposto a compreender.

Doillon constrói a narrativa com ritmo leve e afeto genuíno, evitando os clichês do gênero e permitindo que o público se identifique com os dilemas de Katia sem precisar “entendê-la” completamente — e é justamente essa sutileza que torna o filme tão poderoso. A fotografia de Pierre Milon e a trilha sonora de Jérémie Arcache e Leonardo Ortega reforçam o tom intimista e emocional da obra, que oscila entre a doçura e a melancolia com a naturalidade da vida real.

Mais do que uma história de amor, “Uma Mulher Diferente” é um filme sobre aceitação, vulnerabilidade e empatia, que toca o público sem jamais soar didático. Ao final, a sensação é de leveza — e de gratidão por ter acompanhado uma personagem que se redescobre, e, com ela, convida o espectador a olhar para si mesmo com mais gentileza.

Vá ao cinema!

Serviço

Filme: Uma Mulher Diferente (Différente)
Direção e roteiro: Lola Doillon
Elenco: Jehnny Beth, Thibaut Evrard, Mireille Perrier, Irina Muluile, Philippe Le Gall
País: França | Ano: 2025 | Duração: 100 min
Distribuição no Brasil: Autoral Filmes
Estreia: 16 de outubro de 2025 nos cinemas